2007-02-08

Por último e para termos muita atenção, porque os homens falham e as suas falhas prejudicam outros homens e pelos vistos, muitos não aprendem.

Informar Ou Insinuar?
Por JOAQUIM FIDALGO
Domingo, 24 de Setembro de 2000

Afirmava o PÚBLICO há dias (16/9), num desenvolvido trabalho a propósito da venda de um quartel de Lisboa à cooperativa de ensino Universitas, que o "Estado perdoou juros ao Opus Dei". Nas páginas interiores, em antetítulo, especificava que o alegado tratamento de favor beneficiara uma "cooperativa do Opus Dei". Mais adiante, já no corpo do texto, introduzia nova cambiante para dizer que esta situação envolvia "uma cooperativa de ensino superior ligada ao Opus Dei". E era tudo, no que toca a referências a esta prelatura da Igreja Católica. Em que ficamos? O alegado "perdão fiscal" favoreceu a instituição OpusDei?... Ou uma escola de sua propriedade - mas, em si, entidadeautónoma?... Ou uma escola nem sequer dependente formalmente daprelatura, embora a ela de algum modo "ligada"?... Convenhamos que são situações diversas, com diversa ressonância pública. Esta ambiguidade causou estranheza ao leitor Vítor Costa Lima, do Porto,que, em carta ao provedor, argumentou de modo claro: "Chamou-me aatenção a expressão 'ligada ao Opus Dei'. Tal expressão é habitual emnotícias de vário tipo mas sempre me pareceu uma forma equívoca, que nãoinforma. (...) Dizer que A está ligado a B não informa nada e insinua tudo.Seria necessário indicar o tipo de ligação existente para que a expressãotivesse conteúdo informativo". Já pouco satisfeito com esta formulação, o leitor considera ainda "mais grave" a síntese escolhida para título de primeira página ("Estado perdoou juros ao Opus Dei"), comentando: "Aqui estamos já noutro campo, o campo de afirmação sem fundamento real. O Opus Dei é uma instituição da Igreja Católica, reconhecida pelo Estado português, à luz da Concordata. A Universitas é uma cooperativa de ensino, aparentemente aprovada pelo Ministério da Educação. A notícia não estabelece nenhuma relação entre as duas instituições, a não ser a ambígua expressão 'ligada' que, como vimos, não diz nada. Portanto, é completamente abusivo transformar qualquer diferendo entre a Universitas e o Estado português num diferendo entre o Opus Dei e o Estado português." O jornalista José António Cerejo, autor do trabalho em questão, é o primeiro a dar razão a estas críticas: "Reconheço o erro. Ao leitor era devida mais alguma coisa do que a minha palavra profissional. Embora seja para mim evidente que, se eu escrevo que a Universitas é 'uma cooperativa de ensino superior ligada ao Opus Dei', é porque tenho essa informação como certa, reconheço que os leitores têm o direito de saber o que me leva a dizê-lo". Dois aspectos refere o jornalista para explicar, que não desculpar, a sua opção de não desenvolver o tema das "ligações": por um lado, o facto de a pertença ao Opus Dei não ter, junto da opinião pública, uma conotação "reprovável ou criticável" e, portanto, não parecer ofensivo referir alguém como estando "ligado" à prelatura; por outro lado, a circunstância de osemanário "Expresso" ter, há meses, "abordado desenvolvidamente asligações entre a Universitas e o Opus Dei", com base no pressuposto de que diversos sócios da cooperativa seriam conhecidos membros da "Obra". Sobre este segundo ponto, todavia, é o próprio José António Cerejo aadmitir que "não basta o "Expresso" escrever duas vezes sobre o assuntopara que ele passe a ser do conhecimento dos leitores do PÚBLICO". Finalmente, Cerejo admite também que a formulação demasiado redutora do título de primeira página "corresponde a um género de simplificação habitual na imprensa diária, embora eventualmente perversa", que leva a que se tome o todo pela parte e se transforme uma cooperativa "ligada ao Opus Dei" no próprio Opus Dei. Acresce que, em esclarecimento entretanto enviado à Direcção do PÚBLICO e de que o provedor recebeu cópia, o próprio Gabinete deInformação do Opus Dei nega qualquer tipo de ligação com a Universitas, o que tornaria ainda mais imperiosa a necessidade de justificar as afirmações feitas no artigo. Não parece haver muito mais a dizer sobre o caso, tão clara e incontornável é a argumentação do nosso leitor - que, obviamente, tem razão -, como tão frontal é a assunção das culpas por parte do jornalista. Há, ainda assim, três pontos sobre que podemos reflectir: 1) Todo o artigo em análise gira à volta do Governo português (por via dediversos ministérios) e da cooperativa de ensino Universitas. Há umareferência inicial à tal suposta "ligação" ao Opus Dei, mas depois nunca mais se fala da "Obra". Ou seja, ela não parece minimamente relevante para a substância da notícia. Mas é evidente que, ao referi-la (na primeira página...), o jornal dá uma maior projecção pública e até algum "picante" lateral ao trabalho - coisa que, depois, não cuida de justificar. Se se achavaj ornalisticamente útil ou interessante citar o Opus Dei neste caso, é óbvio que a citação teria de ser respaldada no texto. Assim, aparece como uma referência gratuita, que cria expectativas mas logo as defrauda. Invoca-se onome do Opus Dei em vão; 2) Os jornalistas, por força do seu ofício, lêem muitos jornais, pois precisamde estar ao corrente do que vai sendo noticiado. Mas esquecem-se, por vezes, de que a generalidade dos leitores só lê regularmente um jornal ou,quando muito, um diário e um semanário. Significa isto que os jornalistas sabem de muitas notícias, lidas nas mais diversas publicações, que os leitores do "seu" jornal não conhecem. Portanto, ao escreverem, não podem partir do princípio de que são do domínio público matérias que, em boa verdade, só circularam no restrito meio profissional ou pouco mais. Além disso, o facto de determinado assunto ter sido tratado por um jornal não o transforma automaticamente em verdade inquestionável. Como bem sabemos, os jornais, mesmo os mais credíveis, enganam-se e cometem erros. Utilizá-los como fonte de informação implica, assim, ter cuidados semelhantes àqueles com que se trata qualquer informação recolhida através de fontes: identificar a origem, confirmar os dados, contrastar os elementos recolhidos junto de outras entidades. E o que se diz de jornais diz-se, naturalmente, de rádios ou televisões; 3) O caso aqui apreciado tem um lado bastante perverso: estamos todos adiscutir (e compreensivelmente, pelo que se viu atrás) a questão do OpusDei, mais das suas hipotéticas ligações à Universitas, e quase nos esquecemos do fundo do trabalho jornalístico, que é um suposto "perdão dejuros" a uma escola por parte do Estado. O próprio autor, José António Cerejo, o diz: "Observo que esta polémica é lateral ao essencial da notícia e que nem os ministérios da Defesa e das Finanças, nem a Universitas,puseram, até agora, em causa o que escrevi". Tem o jornalista toda a razão na sua observação. Mas concordará que foi também ele quem, indirectamente, acabou por contribuir para este perverso desvio das atenções do público. E não havia necessidade: ou deixava simplesmente de lado a história do Opus Dei (e já ninguém lhe pegaria por isso...) ou, como ele mesmo admite, justificava minimamente em que se baseava para estabelecer a dita relação. Assim, e logo puxando para título de primeira página essa questão lateral... Resta esperar que, esclarecida consensualmente a polémica acessória, as atenções dos leitores - e de quem de direito - se concentrem na essência doartigo publicado.


Contactos do provedor do leitor:
Cartas:
Rua João de Barros, 265 - 4150-414 PORTO
Telefones: 22-6151000; 21-7501075Fax: 22-6151099; 21-7587138
E-mail: provedor@publico.pt

15 comentários:

Anónimo disse...

O inefável Senhor NC luta incansavelmente por sua dama.

Anónimo disse...

Parece-me que alguém anda aflito com a publicação de alguns textos no banheirense. Deixem-se de correrias, já percebemos.

Anónimo disse...

Funciona e ainda bem. Penso que um jornalista deve ter o maior cuidado em "largar" as bombas e o cerejo larga muitas. Como é do conhecimento geral acerta pouco. Não é a primeira vez.

Anónimo disse...

Lição prática de auto-ilusão com um largo sorriso amarelo:
..."Como é do conhecimento geral acerta pouco"...
Espere pelos próximos desenvolvimentos, Senhor LC

Anónimo disse...

Deviam era assumir o erro em vez de tentar disfarça-lo

Anónimo disse...

Pois a verdade vem ao de cima é o que se quer e não uma mentira repetida muitas vezes passa a ser verdade.

Anónimo disse...

Bruno não te metas com os crescidos.
Vai para dentro, olha a chuva.

Anónimo disse...

É para isto que pagam o senhor assessor com dinheiros públicos, para defender ilegalidades?

Vai mais um lote de bilhetes para festa do pedrito de Portugal?

Anónimo disse...

Isto aqui é uma alegria.
Tenham vergonha.

O homem publicou documentos indesmentíveis e esta cambada paga com o nosso dinheiro anda a fazer estas coisas.

É mesmo o truque habitual: na impossibilidade de descredibilizar as acusações toca a tentar descredibilizar o mensageiro.

Com vocês isto é o pão nosso de cada dia. Já estamos habituados.

Anónimo disse...

Quem é que paga a quem? Então o homem não pode ter opinião. Estamos bem.

Viva a democracia
Viva a liberdade

Anónimo disse...

bruninho não sejas ridículo, olha que eu ainda digo para não te deixarem sair à noite

Anónimo disse...

Ainda não perceberam que estas manobras só vos prejudicam.

Não são novas.

Lembram-se de outro PDM e o que fizeram também? Não se esqueçam.

Existe uma pequena diferença, a Câmara é mais coesa e forte nesta altura e o Partido Comunista Português tem gente muito mais capaz.

Não é com calúnias e insinuações que vão lá. As deturpações não funcionam.

Anónimo disse...

Vocês, defensores do Cerejo, são engraçados.
Pergunto eu:
Cerejo porque é que foste corrido do trabalho que andavas a fazer pelo alto alentejo?

Anónimo disse...

Tantas insinuações. Mentiras forjadas,histórias inventadas. Tudo para denegrir o Srº Presidente da Câmara - eu recorria aos Tribunais, ía o Cerejo, o Ângelo da Várzea, alguns vereadores, o Av, o Brocas e o Broncas e demais mentirosos e provocadores.
Mas têm sorte, o Presidente é mesmo uma Stª Pessoa.

Anónimo disse...

bruninho, olha que está a chover, não te constipes.