Depois de algum tempo a ler alguns artigos sobre o caso, percebi que se tratava de uma reestruturação na empresa ao nível da flexibilidade laboral. A France Telecom que tem 100 mil funcionários é controlada em 25% pelo estado e os restantes pelo privado, tem por objectivo modernizar-se, por causa da concorrência de mercado, naquela que já é o terceiro operador de telemóveis da Europa e o primeiro no acesso à internet. Aos empregados foi-lhes pedido que mudassem de funções de modo a que empresa obtivesse uma melhor rentabilidade dos seus recursos humanos, e foi exactamente aqui que começaram os problemas entre os trabalhadores e os seus patrões. Muitas das pessoas estavam a fazer o mesmo serviço à anos e não se conseguiram adaptar às transferências de local de trabalho e às novas funções destinadas, com a mesma habilidade e mobilidade a que estavam habituados e que os seus chefes exigiam, o que levou a que muitos deles começassem a cair em depressões e consequente suicídio. Como por exemplo podemos citar aquele funcionário que operava na colocação dos cabos de distribuição da rede e foi mandado para a frente de um computador, tecnologia que não estava habituado a utilizar e lhe exigiam a mesma rentabilidade que os colegas que estavam habituados a funcionar naquele sistema, foi fatal, passado algum tempo veio para a baixa com depressão e como não conseguia ter a outra vida, colocou um ponto final na mesma.
Este caso é bem demonstrativo da mudança de valores em curso na sociedade ocidental devido ao avanço tecnológico que ela própria imprime. Num mundo globalizado a velocidade é a garantia do sucesso ou da morte de um produto. Escolher entre a morte de um produto ou de uma pessoa, é com certeza inquestionável que escolhemos a morte do produto, ou não! Se no caso da France Telecom, o produto pode matar a fome a alguns milhares, porque não sacrificar uns quantos em prol do progresso, ou será antes retrocesso? No inicio da revolução industrial as pessoas vinham trabalhar para as linhas de montagem das grandes industrias citadinas em prol do mesmo progresso. Agora, a diferença em relação a essa altura está somente no calendário. Pois, apesar de cada vez mais existir tecnologia para “substituir” as pessoas, paradoxalmente estas sentem-se cada vez mais pressionadas a produzir. Não sei qual será o beneficio que a sociedade retirará deste ritmo, onde por motivos de concorrência, o homem passa por cima dos valores criados por si, mas nunca, ou quase nunca, cumpridos, onde a única regra a cumprir é aquela que lhe dá (ao homem) mais jeito no momento. Mau principio num mundo que se quer regrado e vê nestes “pequenos” exemplos como as coisas caminham para trás. Uma empresa que trata os seus trabalhadores com a frieza dos esclavagistas, onde as pessoas são tratados como números sem direitos cuja as única opção se não aceitarem o proposto é a rua. Temo que este caso seja apenas a ponta de imenso icebergue mundial, que com certeza haverá muitas outras “france Telecoms” ou até empresas de um universo mais pequeno onde existirão casos de suicídios dos funcionários, é que apesar de todas as criticas que se possam apontar, estamos a falar de um pais pioneiro na emancipação do homem, onde ainda prevalecem alguns valores, se assim não fosse nunca este assunto teria a importância que lhe é dada. Este é um problema bem presente na também na realidade portuguesa, onde por vezes ouvimos falar de uma pessoa que se suicidou, atirando-se da ponte, para linha do metropolitano, com comprimidos, etc, sem nunca sabermos as causas. É caso para dizer pré fraseando um trabalhador da France Telecom, "Que sociedade estamos a construir? Que mundo vem aí?", bom não me parece!
O paradigma do 11 de Setembro deu-nos a ver o que as minorias feridas no seu orgulho são capazes de fazer com poucos recursos, criando e seguindo as suas próprias regras. Penso que o homem, de uma forma lata, devia preocupar-se e respeitar mais o próximo do que tentar impingir o seu modelo, com a finalidade de simplesmente extorqui-lo da sua dignidade e identidade, que de facto tem demonstrado que ele mesmo não a tem, pois o que define o nosso carácter são as regras, e quem anda sempre a mudá-las não tem personalidade, e sem personalidade não existe identidade, somente o caos. A relação deste exemplo com o caso da France Telecom tem a ver com a conduta como muitas pessoas se regem, principalmente quando existe muito dinheiro em jogo. A ganância cega que subestima sempre o valor dos outros, esquecendo por completo que uma acção provoca, mais cedo ou mais tarde, uma reacção, no caso dos franceses, eles já bem o demonstraram ao longo da sua História.
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