O filme “fados”, realizado pelo espanhol Carlos Saura, dá-nos uma visão abrangente e externa, sobre a canção nacional de maior referência internacional, pois se existe em Portugal um estilo musical que mais caracteriza o seu povo dentro e fora de “portas”, é o Fado.
Com este filme Carlos Saura, demonstrou a sua subjectividade em relação ao Fado. Conhecedor de poucos fadistas, ao longo destes três anos em que esteve envolvido neste projecto, foi descobrindo outros e procurou saber mais sobre as origens do fado. Com a sua experiência profissional feita essencialmente em musicais, notou-se a importância que o som obteve em relação à imagem. Elaborou cenários simples, feitos de jogos de espelhos, luz e telas, montadas em palcos, nos quais, não faltaram o acompanhamento coreográfico dos bailarinos. Procurou dar movimento aos sentimentos do fado, transpondo-o para a dança, na qual diz “se veio do Brasil, há possibilidade de ter existido no seu passado como dança”. Globalizou o fado, unindo os ritmos das raízes do sentimento português através de formas musicais de culturas irmãs, como a brasileira, a africana e hispânicas, onde diz haver um espírito parecido. Daí que o filme se chame fados e não fado, porque existe muitos fados baseados no mesmo sentimento.
O filme “fados” assinala um marco na nossa cultura. Penso que as únicas vezes que vi um filme sobre fado ainda seria a preto e branco da época de ouro do cinema português. De início fiquei surpreendido com o formato do filme, feito por planos mas, conseguiu-me agarrar, não só pelo excelente som, como pela a imagem, que embora simples, era agradável. Percebi a escolha do formato, que tinha como objectivo desmontar o fado e montá-lo de diferentes formas, como se de uma ferramenta multifacetada se tratasse. Esta “plasticidade” do fado servia para o fundir noutras formas de música ou dança que mais não eram que uma expressão dos mesmos sentimentos. O positivo é que no centro destes sentimentos a estrela era o nosso fado, e será com esta ideia “fado”, que quem ouve e gosta, vai procurar saber mais. É pena que o filme tenha apenas uma hora e meia, podiam ter aparecido outras grandes vozes que nós temos. Mas gostei muito do facto de terem dado oportunidade a fadistas totalmente desconhecidos do grande público. Estas pessoas tinham não só o talento na voz como uma imagem física representativa da multiplicidade de indivíduos que vivem o fado, e isso também é riqueza cultural.
No final do filme, com a imagem da Mariza a dizer, “Ó gente da minha terra”, lembrei-me da sua origem moçambicana, saí e fiquei com uma sensação de orgulho de ser português reforçada… não por uma questão nacionalista… mas porque faço parte de um povo heterogéneo, capaz de se fundir noutros e fazer disso a sua riqueza.
1 comentário:
Apreciem esta bufaria pidesca e nojenta.
Chegou por mão amiga e amável.
MdS
Enviar um comentário