O Tratado dos Tratantes
Não é de agora o sonho de alguns ditos europeístas (pela própria boca), também apelidados de democratas (pelas mesmas cordas vocais), de aprofundar o neoliberalismo, o federalismo e o militarismo na Europa. Esses “europeístas”sofreram uma pesada derrota em 2005, quando os povos francês e holandês votaram não a estas ideias. Mas o sonho não morreu aqui e nestes últimos tempos, com uma operação de cosmética, estes senhores tentaram impingir, sem discussão e sem votação, sem ter em consideração a vontade dos povos, estas ideias novamente, mudando-lhe apenas o nome para Tratado de Lisboa.
Há dias, o povo irlandês, o único até agora a ser chamado a pronunciar-se sobre o Tratado disse que não o queria e enviou estas ideias bolorentas e bafientas para o caixote do lixo da História. Por aqui se percebe o medo destes europeístas pela vontade do povo!
Em Portugal, todos os partidos prometeram referendar estas ideias, mas quando chegou a altura, PS, PSD e CDS-PP com a bênção de Manuel Alegre mais uma vez, deram o dito por não dito e entenderam não cumprir a promessa, comportando-se como autênticos tratantes. Bem podem agora gritar aos sete ventos que estão preocupados com o deficit democrático na construção europeia (mais um) e com o pouco conhecimento que os europeus possuem sobre estes assuntos, quando isto acontece devido às suas práticas pouco claras.
Relembro aqui que para o Tratado ser válido é necessário que todos os países o aprovem, o que já está fora de questão. Como sempre, os espertos, os tratantes fazedores de tratados, querem contornar a lei e a ordem e fazer ressuscitar o defunto tratado, talvez tentando não comprometer a carreira política de José Sócrates, padrinho do texto. Alguns sugerem que a Irlanda mude de Constituição, outros que a Irlanda fique de fora deste processo e outros ainda, que se continue a ratificar o tratado, mesmo quando este está juridicamente morto e por último, os mais espertos, os verdadeiros tratantes são da opinião que se faça nova votação na Irlanda até que se vença este povo pelo cansaço.
A resposta que o povo da Irlanda deu é uma vitória de todos aqueles que lutam para travar a ofensiva contra os direitos sociais e laborais, pela negociação colectiva, por serviços públicos de qualidade, entre outras conquistas dos trabalhadores e dos povos. Esta Europa pouco democrática que agora sofreu esta pesada derrota, que quer prolongar o tempo de trabalho semanal até às 65 horas, num claro retrocesso civilizacional, não é a Europa da solidariedade, da justiça social, da paz e do progresso é uma Europa do capital, dos mais fortes, daqueles que exploram e oprimem. Esta Europa não serve e não pode ser imposta. É agora a altura de todos os europeus discutirem os caminhos para uma Europa de cooperação, de respeito pelo princípio dos Estados soberanos e iguais em direitos, no desenvolvimento e progresso.
Neste sentido e colocando em prática aquilo que defendemos, o Partido Comunista Português irá realizar no âmbito da preparação do XVIII Congresso, no dia 20 de Junho pelas 21 horas, no Moinho de Maré em Alhos Vedros, um debate sobre este tema que contará com a presença de Pedro Guerreiro deputado no Parlamento Europeu.
Por último e para que não fique tanto por dizer, esta vitória do Não é no nosso país uma derrota de José Sócrates, de Cavaco Silva, do governo, do PS, PSD e CDS-PP e espera-se que agora tenham aprendido a lição: Mentir não compensa, ainda que se tenham desculpas engenhosas para o fazer!
Nuno Cavaco
Membro da DORS do PCP
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