2007-09-28

O Brocas lembrou-se deste “episódio” da história banheirense:

Quando alguém pretendeu rebatizar a Baixa da Banheira por Vila Nova de Fátima.

O Governador Civil de Setúbal, dr Miguel Rodrigues Bastos, visitara a Baixa da Banheira a fim de proceder à inauguração da luz eléctrica. Aguardava-o, para além de algumas entidades oficiais, uma comissão banheirense, que muito trabalhara para a instalação da luz neste lugar, composta por António de Almeida Martinho, reformado da Marinha de Guerra; António Pinheiro (Laia), comerciante e proprietário; Alfredo Gomes, proprietário e negociante de gados; José Casimiro, proprietário; António Lázaro, funcionário da C.U.F.; Francisco Carregosa, comerciante; Francisco Ribeiro Moreira da Silva, proprietário e industrial da construção civil; Manuel Ribeiro, proprietário e funcionário da C.U.F. e o Padre José F. Rodrigues Pereira, pároco de Alhos Vedros.

Depois da cerimónia, quando os visitados se despediam daquela comissão, inesperadamente, um dos comissionados, Manuel Ribeiro, membro destacado da extinta Legião Portuguesa, aproveitou o ensejo e, entre sorrisos e apertos de mão, fez votos para que o «senhor Governador Civil voltasse em breve à Baixa da Banheira a fim de instaurar a nova freguesia» (sic) que, propôs, se viesse a chamar Vila Nova de Fátima!

O insólito alvitre fora imprevisto e tão impertinente que desconcertou os presentes. Ninguém incumbira o Ribeiro de «rebatista» duma terra que na altura possuía já à volta de dez mil habitantes, e por isso não o apoiaram. Para além disso o ilogismo era flagrante pois os topónimos devem consubstanciar-se com os lugares onde se aplicam e ninguém descobrira qualquer relação entre esta progressiva terra, de gente operária, com a «aparição da Cova da Iria» em Vila Nova de Ourém.

A intenção bajuladora do Manuel Ribeiro era por demais evidente e então, só numa surdez, quase clandestina, alguns membros dessa comissão manifestaram a sua discordância. Nem o próprio pároco da Freguesia de Alhos Vedros, que estava presente se mostrou entusiasmado com a absurda sugestão do Ribeiro pois talvez, na altura, já fosse sua intenção dar o nome de S. José à paróquia que se forjava e daí a sua frieza.

Contudo esta estultice encontrou logo alguns aderentes que, pretendendo tirar proveitos da adulação do Manuel Ribeiro, a divulgaram sorrateiramente, mas o rebatismo era tão descabido que não encontrou o desejado eco no seio do povo e assim, após a efervescência provocada pelo imprevisto e pela controvérsia das opiniões, acabou por cair no esquecimento.

Quando da criação do «Núcleo dos Amigos da Baixa da Banheira» a toponímia do lugar a oposição de alguns que, mal avisados, se baseavam no picaresco do nome e até a imprensa, ignorando a razão da sua invulgaridade, o depreciava por vezes. O jornal «O Século», em 22 de Fevereiro de 1961, designou-o de «nome infeliz». No entanto, na intenção de esclarecer e dinamizar uma toponímia que na realidade se impunha, o «Núcleo» no primeiro jornal dedicado à Baixa da Banheira, expôs as suas justas razões do seu nome que nada tem de ridículo, grotesco ou infeliz e, aliás, é na realidade aquele que melhor se ajusta ao próprio lugar.

in "A Baixa da Banheira até aos nossos dias", José Rosa Figueiredo, 1979

1 comentário:

Anónimo disse...

O artigo está interessante mas podia estar limpo de comentários tão tendenciosos e tão pouco isentos.

Mas como foi um comunista a fazê-lo compreende-se. E como era amante convicto da sua terra está desculpado.