2007-05-13

Esta semana fui levado pela curiosidade a assistir a uma palestra dada por um respeitado investigador brasileiro na área das energias alternativas. Ao longo da sessão fui, inevitável e tristemente, fazendo algumas comparações com a realidade nacional. O Brasil foi capaz de, ao longo dos últimos anos, e apesar das suas convulsões sociais e politicas, de delinear uma estratégia energética a nível nacional, com uma grande componente de investigação científica, que lhe permite actualmente ter o seu consumo de energias renováveis a rondar os 45% do total do consumo nacional, e com tendência a aumentar. Invejável, não é? No entanto é aparentemente simples: adaptaram as tecnologias já existentes às matérias primas locais e tiveram a força suficiente para obrigar o mercado, diga-se, as grandes multinacionais, a adaptarem-se ás alterações. É assim, por exemplo, que toda a indústria automóvel produz veículos movidos a etanol produzido a partir de cana de açúcar. Vindo isto de um pais produtor de petróleo, é obra.

Olhando para o exemplo português o que se vê é que a nossa maior potencial fonte de energia renovável é a energia solar. Existem alguns grupos portugueses a investigar a energia fotovoltaica há mais de 20 anos. Isoladamente, sem que este assunto tenha sido alvo de uma politica nacional, vimos toda a Europa central investir, e ironia das ironias, a instalar muito mais potência do que nós, apesar de o Portugal ter muito mais horas de sol por ano. Aquela que deveria ser uma aposta governamental, criando uma nova fonte de energia localizada, evitando os custos do transporte de energia a longas distâncias e diminuindo a dependência das tradicionais fontes fósseis (petróleo, gás e carvão) que somos obrigados a importar, e mesmo da energia hidroeléctrica, provavelmente evitando a construção de mais uma ou outra barragem e permitindo manter o leito natural de um ou outro rio, a energia solar foi esquecida. Ainda existiu um fervor há uns anos com os painéis solares para aquecimento de água, mas a fraca qualidade dos poucos instalados cedo fez arrefecer os ânimos.

Só agora, com a subida do preço do petróleo é que se investiu em grande escala em novas fontes renováveis e, para espanto, investiu-se na energia eólica. Portugal ameaça mesmo transforma-se num grande parque eólico apesar das condições naturais serem das menos favoráveis da Europa. Nada disso importa. O que importa realmente é que se trata de uma fonte barata e de grande visibilidade. Pior ainda, constroem-se centrais de queima de biomassa com, ouvi dizer, capacidade muito superior à nossa capacidade de as alimentar.

Mas a fonte solar está-nos inevitavelmente reservada, e nos últimos meses apresentaram-se algumas instalações na peneplanície alentejana com pretensões a serem das maiores no continente. Entretanto, como passar dos anos, a hipótese de incorporar tecnologia nacional neste esforço perdeu-se. Apesar em Portugal ainda existir investigação em energias alternativas, estes projectos agora instalados, ou a instalar brevemente, foram (tal como as centrais eólicas) comprados a empresas estrangeiras que tiveram o apoio dos seus países para as desenvolverem. São projectos “chave na mão” sem transferência de tecnologia e sem grande criação de emprego, e acima de tudo, são uma marca indelével de mais uma oportunidade perdida.

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