Foi publicado um artigo no jornal "Rostos" sobre alterações climáticas por Nuno Banza. O artigo é interessante mas peca por só referir parte dos dados mas, pelo menos refere valores.
Passo a colocar o artigo aqui:
Alterações Climáticas - A Urgência de Agir e Depressa
Por Nuno Banza
Os registos de anomalias climáticas com perdas de vidas humanas e de bens materiais começaram a ser notícia espaçadamente, para estarem hoje na ordem do dia, de quase todos os dias. O aumento da frequência de ocorrência de furacões, ciclones e tempestades tropicais foi rápido mas não silencioso. As secas e inundações que se tornaram frequentes em muitos locais da Terra, levaram já milhares de vidas humanas, ameaçando muitas mais.
Chegar às primeiras páginas não é garantia de importância. Mas, por
vezes, as primeiras páginas justificam-se. As alterações climáticas
não são uma questão de moda: trata-se do nosso futuro. Políticos,
empresas, famílias, cidadãos - todos aqueles que têm interesse no
futuro sabem que é necessário actuar agora para gerir os problemas de
amanhã.” Estas palavras de Durão Barroso, Presidente da Comissão Europeia, são o espelho de uma enorme mudança de mentalidades a que estamos obrigados. Elas foram proferidas numa altura em que se encontra a decorrer em Nairobi, no Quénia, a Conferência das Nações Unidas para as Alterações Climáticas. Uma iniciativa das Nações Unidas para tentar motivar uma mudança de comportamentos das Nações, porque na verdade, o modelo económico do mundo dito desenvolvido, não contemplava até há pouco tempo as externalidades negativas de que a emissão de gases como o CO2 é um bom exemplo.
Alguns números de enquadramento
O avanço da tecnologia veio permitir encontrar respostas e descobrir verdades que estavam antes bem escondidas pela natureza. O Painel Inter-Governamental para as Alterações Climáticas (IPCC) estimou que desde o ano de 1750 até ao ano 2000, a concentração de CO2 da atmosfera subiu 31%, sendo expectável que até ao ano 2100 esta suba, a números de hoje, até aos 250%. Da mesma forma, a concentração de Metano subiu no referido período cerca de 151%. Do total das emissões destes gases, os Estados Unidos da América (EUA) são actualmente responsáveis por cerca de 25%.
Quanto ao comportamento térmico da Terra, tornou-se uma evidência científica que no Século XX a temperatura média da Terra subiu 0,6º C, assim como se sabe que a década de 90 do mesmo Século foi a mais quente desde que se efectuam registos climatológicos sistemáticos (1861). Também foi possível validar cientificamente que 1998 foi o ano mais quente de toda a história dos registos de temperaturas. Ao mesmo tempo que se verificou a subida das temperaturas, outros fenómenos começaram a assustar os estudiosos. Factos como a diminuição do manto de neve que cobre a superfície da terra em 10%, desde 1960, ou a diminuição de 40% da espessura do Árctico desde 1965 até aos nossos dias, começavam já a mostrar um comportamento reactivo da Terra. Como resultado primário destes acontecimentos, verificou-se outro facto preocupante – o nível médio da água do mar subiu 20 cm no Século XX.
Os trabalhos científicos do IPCC mostraram ainda que as previsões para o Século XXI são de um aumento de até 5,8º C na temperatura média da Terra e uma subida de cerca de 88 cm do nível médio da água do mar. Face a este cenário, estados como o Tuvalu, no Pacífico, ficarão com 100% do seu território debaixo de água, tendo já negociado com países vizinhos, como neste caso com a Nova Zelândia o acolhimento de parte da sua população.
Os sinais de alerta
Inúmeros sinais começaram a ser dados pela Terra, mas o Homem continuou a sua saga de desenvolvimento assente nos recursos finitos do petróleo, carvão e gás natural, expelindo para a atmosfera aquilo que sabemos hoje serem quantidades de gases como o CO2, incomportáveis para um sistema natural saudável, que permita o suporte de vida em condições de segurança.
Os registos de anomalias climáticas com perdas de vidas humanas e de bens materiais começaram a ser notícia espaçadamente, para estarem hoje na ordem do dia, de quase todos os dias. O aumento da frequência de ocorrência de furacões, ciclones e tempestades tropicais foi rápido mas não silencioso. As secas e inundações que se tornaram frequentes em muitos locais da Terra, levaram já milhares de vidas humanas, ameaçando muitas mais. Pela primeira vez, Portugal registou um fenómeno climático extremo de escala nacional, pela passagem do Furacão “Gordon” a 21 de Setembro deste ano, contrariando os registos até ai conhecidos em que o Anticiclone dos Açores fazia com que este tipo de fenómenos se desviasse para Norte. O resultado foi a sua passagem pelo território continental deixando um pouco por todo o lado as suas marcas. Desta vez o anticiclone não se comportou como até aqui – estranho? Talvez não!
O degelo das calotes polares, com níveis preocupantes nos anos mais recentes, tem como consequência directa a subida dos níveis médios da água do mar. Este fenómeno associado ao aumento da temperatura média da água, que provoca o seu aumento de volume e assim também a sua subida de nível estão ainda na origem de registos que revelam a mudança de padrões de distribuição de doenças tropicais a par da alteração da distribuição de muitas espécies de seres vivos.
De Quioto a Nairobi – tão longe do fim
Um dos riscos apontados por Al Gore no seu recente trabalho sobre o fenómeno das alterações climáticas, é que a informação obtida pelos cientistas e que justamente pertence à humanidade como património científico, faça passar a opinião pública do descrédito para o desespero. Este medo não deve no entanto impedir que o trabalho continue e se intensifique na justa medida da sua premente necessidade.
O célebre Protocolo de Quioto ratificado por 41 países em 1997, dos quais Portugal fez parte, estabeleceu como período de referência inicial o ano de 1990, tendo como horizonte de aplicação o período 2008 – 2012. Neste período, 35 dos países que assinaram o protocolo comprometeram-se a reduzir as emissões de CO2 em 5% porém, até 2004 a redução efectivamente conseguida ficou-se pelos 3,3%, à custa da redução verificada pelo colapso económico da ex-URSS que representou neste esforço 36,8%.Por outro lado, algumas economias emergentes da Europa de Leste e dos Balcãs registaram entre 2000 e 2004 uma subida de 4,1%. Os objectivos fixados por Quioto de uma redução de CO2 na ordem dos 8% até 2012, apontando uma redução de 60 a 80% em 2050 estão por isso cada vez mais longe de serem atingidos. Portugal, pertencendo aos países a quem foi permitido aumentar as suas emissões, com o objectivo de esse aumento ser associado a um desenvolvimento económico que lhe permitisse a modernização do tecido industrial, está numa situação deveras preocupante. Não só o período decorrido não se pautou por uma efectiva modernização dos sectores responsáveis pela maior parte das emissões, como também o consumo de energia disparou para um aumento da ordem dos 5 % /ano, enquanto o sector dos transportes continua a representar mais de metade da factura nacional de combustíveis. Verificou-se assim que, com um aumento previsto para 2012 de 27% de emissões de CO2 em relação a 1990, Portugal emitia já em 2004 mais 40,8% de CO2 em relação ao ano de referência. Para uma emissão limite de CO2 de 76,3 milhões de Toneladas equivalentes, Portugal identificou um excedente de 5,8 milhões de Toneladas equivalentes.
Plano Nacional para as Alterações Climáticas – Promessas ou compromissos sérios?
Ao ratificar Quioto, Portugal aceitou entrar num mecanismo financeiro que instituiu um mercado de licenças de emissão de gases com efeitos de estufa, conhecido como mercado do carbono. Este mecanismo traduz para valores de mercado a quantidade de CO2 que é emitida por cada um dos países. Tal facto faz com que a partir de 2012, os estados que excedam as quotas de emissão que lhe foram atribuídas e negociadas no “bolo” global da União Europeia, devem pagar o valor correspondente ao excedente das suas emissões. O Governo Português calculou já o custo estimado que o país terá de suportar – cerca de 348 milhões de euros/ano – tendo já contemplado no orçamento estado de 2007 cerca de 6 milhões de euros e prevendo contemplar para o orçamento de 2008 cerca de 72 milhões de euros.
Consciente do panorama dramático em que Portugal se encontra nesta matéria, o Governo aprovou em Agosto último o Plano Nacional para as Alterações Climáticas (PNAC) que é já uma versão “revista e anotada” dos anteriores porém, as expectativas são já baixas. Face ao compromisso assumido pelo Governo de diminuir 1% ao ano, de 2004 a 2012 a emissão de CO2 cabendo a cada um dos ministérios a fixação das medidas sectoriais que permitirão atingir esta redução, o prazo de 15 de Setembro dado para o fazer já lá vai, e nada foi feito. Às propostas iniciais de um aumento até 2010 de área florestal para 600.000 hectares, o Governo admite já um desvio de 18% - este desvio representará um aumento de emissões por perda da função de sumidouro da floresta em cerca de 930 mil toneladas de CO2/ano. Para a proposta que previa a instalação de cerca de um milhão de metros quadrados de colectores para água quente solar, admite-se já um desvio de 50%, com o consequente aumento da emissão de 140 mil toneladas de CO2/ano. Da mesma forma os objectivos fixados para o abate de veículos em fim de vida terá previsivelmente um desvio de 80%.
Porém, hoje em Nairobi, o Secretário de Estado do Ambiente do Governo Português, afirmou que “Portugal acredita que com escolhas políticas fortes e deliberadas, é possível “descarbonizar” a nossa economia sem criar obstáculos ao desenvolvimento.” Pena é que a realidade nos tem mostrado que esta frase não tem tido até agora significado no país em que este político tem responsabilidades.
A responsabilidade de agir é de todos nós.
Nicholas Stern, o especialista inglês que revelou recentemente ao mundo o seu trabalho científico sobre o fenómeno das alterações climáticas diz no seu relatório “Ninguém pode prever com completa certeza as consequências das alterações climáticas porém, nós sabemos já o suficiente para perceber os riscos.” Algumas das conclusões mais prementes deste relatório apontam para o ano de 2025 consequências assustadoras: aumento de 2º C da temperatura média da Terra; 200 milhões de refugiados; perda incalculável de vidas humanas e de biodiversidade; custo financeiro 5 a 20 vezes superior ao de intervir na diminuição de gases com efeito de estufa.
Em nome dos habitantes de New Orleans e de muitos outros locais do mundo onde infelizmente se perderam recentemente milhares de vidas humanas não devemos calar o grito de revolta que urge dar, em nome da humanidade, dos nossos filhos.
A decisão é de cada um de nós e fazer alguma coisa, mesmo que se pense ser pouco, terá com toda a certeza, na soma total, um significado forte e motivador da mudança de comportamentos da humanidade. Sem vaidades, arrogâncias ou falsas modéstias, todos somos responsáveis.
Alguns conselhos práticos que se podem desde já seguir:
- troque as lâmpadas incandescentes por lâmpadas de baixo consumo. O tempo médio de vida destas é seis vezes superior às convencionais e você evitará por cada lâmpada, a emissão de 68kg de CO2 por ano;
- Evite produtos com muita embalagem. Reduzir o seu lixo em 10% pode evitar a emissão de 545kg de CO2;
- Pratique e promova a política dos 3 R’s. Reciclar metade do seu lixo doméstico pode reduzir a emissão de cerca de 1.000kg de CO2 por ano.
Visite:
http://www.breathingoceans.org/breathingoceans/index.html
www.climatecrises.net
www.quercus.pt
Nuno Banza, Barreiro,
16 de Novembro de 2006
Mas falta referir outros dados como:
- A pressão atmosférica tem vindo a aumentar o que não é compatível com o aquecimento global;
- Algumas regiões aquecem outras arrefecem;
- Os dados apontados pelo IPCC tem como base 7000 estações de medição, com localizações questionáveis e não entram em linha de conta com outros instrumentos de medição mais precisos;
- O manto de gelo que cobre o planeta não se comporta da mesma forma, em algumas regiões este aumenta, devido ao arrefecimento, e em outras diminui fruto do aquecimento;
- O protocolo de Quioto não é sério porque funciona como um mercado de poluição e a questão da transacção de direitos de poluição tem de acabar;
No entanto, admito, que foi dos artigos mais completos e interessantes que li sobre o tema e concordo que o homem deve tentar perceber o clima e proceder a alterações no seu modo de vida para que não gere mais tragédia e miséria e isso passa sem qualquer sombra de dúvida por questionar o nosso modelo de produção e o próprio sistema capitalista. Produzimos a mais e muitas vezes para deitar fora, com vista ao lucro e não ao respeito pelo planeta e pelos seres que o habitam.
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