2006-02-06

Pertenço àquela geração de crianças que em meados dos anos 70 foi inaugurar um novo infantário e jardim escola na Baixa da Banheira, um modelo para a época, não só por somente existir, mas pelos excelentes equipamentos e instalações (ainda hoje invulgares).

É claro que tudo isto é fundamental para que as minhas memórias daquele espaço estejam repletas de correrias em espaços livres, da descoberta das laranjeiras que ainda decoram o vasto espaço exterior, e mais ainda daquelas que assaltávamos no pomar do Ti Rafael, situado logo ali, no outro lado da vedação, mas fundamentalmente das amizades que ainda hoje me orgulho de manter.

Passados anos começou a ser construída a urbanização da Quinta dos Algarvios, o pomar foi abandonado, sendo agora apenas relembrado na memória dos que por ali viveram, e pelo Jardim das Laranjeiras, entretanto construído naquela fracção de terreno onde nos revezávamos entre o trepar à laranjeira e roubar laranjas azedas de verde e ficar à espreita do velho caseiro.

O Jardim de Infância ainda lá continua, mas com o lento passar dos anos, as sua instalações exteriores foram-se progressivamente degradando, assumindo um aspecto triste de abandono, chegando mesmo nos últimos tempos a ser feita uma divisão, impedindo o acesso aos antigos campo de jogos, horta e galinheiro. Com efeito, o espaço exterior é agora menos de metade do que aquele que nós percorríamos, correndo com um pneu, ou atrás de uma bola, ou apenas porque sim.

O Centro de Bem Estar Social da Baixa da Banheira é propriedade da Segurança Social, aquela mesma para a qual nós todos somos obrigados, e bem, a descontar. O mínimo que lhe exige, é que cumpra o seu dever, e que zele por aquilo que não é apenas do Estado como entidade abstracta, mas efectivamente de todos os banheirenses.

2 comentários:

Anónimo disse...

É verdade amigo, é um caso flagrante de como as coisas neste pais se vão degredando. O estado faz de tudo para se desresponsabilizar de tudo. Passando para os privados tudo o que feito com o suor dos cidadãos, em que o lucro impera sobre os demais valores. Todos temos direito à Educação, não sabemos é qual a que nos está destinada. Dúvido que as crianças que hoje lá estão (no Centro de Bem Estar Social da Baixa da Banheira) tenham tudo aquilo que nós tivemos para o seu Bem Estar. Começando pelo espaço como referiste, passando pela quantidade de variada actividades (desde visitas, jogos educativos a espectáculos para crianças [José Barata Moura] e outros) no interior e acabando, na sua continua educação, nos ATL de então. Talvez a redução do espaço de recreio seja um sinal da liberdade que hoje nos é permitida. Porque quem lá andou como nós, sabe bem quão grande era o nosso Mundo.

Anónimo disse...

Eu não andei nesse infantário mas, cheguei a fazer uns "assaltos" ás laranjas :) e sim lembro-me bem de como era o infantário, aliás ainda em anos recentes foi frequentado por crianças da minha familia numa fase em que ainda existiam esses espaços, infelizmente a degradação é hoje uma realidade.
Infelizmente o estado desresposabiliza-se cada vez mais de tudo o que é social e dos bens comuns e essenciais a todos nós como muito recentemente aconteceu com a água.
Então eu deixo uma pergunta, se o estado deixa de nos proteger, se vende tudo o que é nosso, se temos que pagar tudo aos privados num futuro muito próximo, então porquê pagar impostos ao estado?
o estado caminha para se tornar num agente de extorsão em que obriga o cidadão a pagar impostos mas, sem qualquer retorno que não seja o de alimentar a gorda máquina estatal.