As brincadeiras despreocupadas de criança, numa terra onde a Revolução de Abril foi recebida com uma explosão de alegria, fizeram com que a quase totalidade das minhas primeiras recordações de infância seja bastante felizes.
Os espaços por preencher entre os prédios da minha rua transformavam-se em recreios para jogar ao espeta e ao pião, ou a qualquer outra coisa que eu e os outros miúdos da minha rua, alguns deles hoje amigos para a vida, nos lembrássemos. Mais a baixo estava o que ainda restava da Quinta do Petinga, e que oferecia as velhas figueiras, oliveiras e laranjeiras para treparmos. Logo ali atrás estava o Parque Estrela Vermelha com os seus baloiços e campo de jogos. Junto ao rio, as salinas eram outro mundo que começávamos a explorar.
No meio de toda esta alegria, aquelas que possivelmente serão as primeiras imagens que retive prenderam-se na preocupação e ansiedade, como sempre mal escondida, com que a minha mãe olhava naquele dia as notícias na televisão. O meu pai estava ausente e era por ele que nós procurávamos enquanto uma pequena televisão, emprestada por um amigo, debitava imagens do Parlamento. Passa uma figura magra, de cabeleira farta e óculos que nos acena. Ali estava ele. Voltou algum tempo depois, exausto e de barba por fazer. Anos mais tarde identifiquei este episódio com o cerco à Assembleia Constituinte, em vésperas do golpe de 25 de Novembro.
Hoje não posso assegurar que a tal figura seria efectivamente o meu pai, nem mesmo se a chegada fosse a referente a estes dias, pois também me lembro das vigílias no Centro de Trabalho e das barricadas no 25 de Novembro, mas as memórias são assim, e estas são as minhas.
Faz hoje 30 anos que foi votada e aprovada a Constituição da República Portuguesa, e entre aqueles que colocaram em Lei a nossa jovem democracia estava um jovem de 33 anos, banheirense, eleito no círculo eleitoral de Setúbal, pelas listas do PCP.
Os espaços por preencher entre os prédios da minha rua transformavam-se em recreios para jogar ao espeta e ao pião, ou a qualquer outra coisa que eu e os outros miúdos da minha rua, alguns deles hoje amigos para a vida, nos lembrássemos. Mais a baixo estava o que ainda restava da Quinta do Petinga, e que oferecia as velhas figueiras, oliveiras e laranjeiras para treparmos. Logo ali atrás estava o Parque Estrela Vermelha com os seus baloiços e campo de jogos. Junto ao rio, as salinas eram outro mundo que começávamos a explorar.
No meio de toda esta alegria, aquelas que possivelmente serão as primeiras imagens que retive prenderam-se na preocupação e ansiedade, como sempre mal escondida, com que a minha mãe olhava naquele dia as notícias na televisão. O meu pai estava ausente e era por ele que nós procurávamos enquanto uma pequena televisão, emprestada por um amigo, debitava imagens do Parlamento. Passa uma figura magra, de cabeleira farta e óculos que nos acena. Ali estava ele. Voltou algum tempo depois, exausto e de barba por fazer. Anos mais tarde identifiquei este episódio com o cerco à Assembleia Constituinte, em vésperas do golpe de 25 de Novembro.
Hoje não posso assegurar que a tal figura seria efectivamente o meu pai, nem mesmo se a chegada fosse a referente a estes dias, pois também me lembro das vigílias no Centro de Trabalho e das barricadas no 25 de Novembro, mas as memórias são assim, e estas são as minhas.
Faz hoje 30 anos que foi votada e aprovada a Constituição da República Portuguesa, e entre aqueles que colocaram em Lei a nossa jovem democracia estava um jovem de 33 anos, banheirense, eleito no círculo eleitoral de Setúbal, pelas listas do PCP.
4 comentários:
Na época (25/04) residia nessa zona também mas me consigo lembrar da já existência do Parque. Calhando brincamos juntos.
É um orgulho ser português, banheirense e ter amigos como aquele que escreveu o post.
Muito bem! Homenagem sentida do filho, joão, para o pai, José.
Viva a Amizade:)
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