2006-04-08

Se no velho Oeste Americano os videirinhos foram os proprietários dos bares onde os mineiros, no jogo e nas orgias, «derretiam» o fruto de incalculáveis perigos e sacrifícios, a Baixa da Banheira conheceu tais oportunistas através dos proprietários de autênticas sanzalas, erguidas em pátios exíquos, «moradias» sem ar, sem luz, sem esgotos e algumas sem sol... Barracas, de uma ou duas divisões feitas de tábuas desconjuntadas e telhas mal unidas, e outros tugúrios onde se albergavam famílias de quatro ou mais pessoas, verdadeira armazenagem de carne humana, numa promiscuidade confrangedora, cancros sociais, factores de incestos e estupros que, ao que sabemos, felizmente não aconteceram, mas que não deixaram de marcar nas pessoas, principalmente nas mais jovens, um sentimento de revolta pela sociedade que as sujeitava a um viver irracional.

Para além disto, tal ambiente era bastante propício à propagação de doenças, não só pela falta de espaço suficiente a uma vida salubre, como até pelas condições higiénicas, pois como é óbvio, o destrambelhado crescimento da terra fizera-se sem quaisquer regras urbanísticas, não existiam esgotos nem recolha de lixo ou de dejectos.

Ante a gravidade da situação a Comissão Administrativa da Câmara Municipal do Concelho da Moita, em sua Sessão de 27 de Maio de 1936, segundo conta a Folha 120 do livro de Actas, deliberou não autorizar novas construções de barracas de madeira nem edifícios de prédios sem que, pelo funcionário dos respectivos serviços de fiscalização, lhes fosse indicado o alinhamento competente, e na verdade, na sessão camarária de 17 de Junho do mesmo ano, foram indeferidos os pedidos de José Dias Salgueiro, António Bernardino e João Valente, que pretendiam construir barracas de madeira para habitação.

Contudo, esta disposição não impediu que as barracas se continuassem a construir abusivamente, facto que inexplicavelmente persistiu durante largos anos!

(...)

No entanto eram os pátios que mais contribuíam para a insalubridade e sordidez de aspecto do povoado nascente. Ardilosamente, os proprietários construíam legalmente uma moradia, ou moradias, em cujas traseiras deixavam um quintal com comunicação para a rua. Depois requeriam licença para um telheiro, ou armazéns de arrecadação, que finalmente acabavam como armazenagem daqueles que não podiam pagar renda duma casa de «gente»!

Em 1960 o recenseamento geral da população, elaborado pelo Instituto Nacional de Estatística, dava à Baixa da Banheira a surpreendente soma de 12.525 habitantes, exceptuando outros lugares que hoje constituem o seu termo.

(...) Esta cifra viria colocar a nova povoação na situação de 34º aglomerado populacional do país, portanto com uma densidade demográfica superior a algumas cidades tais como Figueira da Foz, Caldas da Rainha, Elvas, Vila Real, Portimão, Guarda, Leiria, Portalegre, Bragança, Horta, etc..

in A Baixa da Banheira até aos nossos dias, José Rosa Figueiredo

6 comentários:

Carlos (Brocas) disse...

"Em 1960 o recenseamento geral da população, elaborado pelo Instituto Nacional de Estatística, dava à Baixa da Banheira a surpreendente soma de 12.525 habitantes, exceptuando outros lugares que hoje constituem o seu termo."

Desde Janeiro desse ano que eu fazia parte desse numero num Patio,o do Feijão que, 1 ou 2 anos depois tivemos de largar por não haver dinheiro para a renda. À muito que não passava por lá, quando passei reparei que, se está a cosntruir um prédio no referido local. Não fui a tempo, não me lembrei a tempo, de, ficar com recordações do local onde nasci.
Tenho pena.

Carlos (Brocas) disse...

Ainda existe contudo, na rua em frente ao eferido local, uma mercearia, a taverna já fechou.
Também, se não tivesse fechado, possivelmente já não teria o seu lugar como taverna mas sim, mais um local de encontro de pessoas problemáticas como é o caso da que fica frente à saida do apeadeiro para o lado contrario à EN.
Enfim, ao J.Figueiredo, PARABÉNS, pelo post, a continuar na minha humilde opinião.

nunocavaco disse...

Agora concordo com o Brocas e penso que esta linha, já há algum tempo feita pelo João deve continuar, mas seguida com exemplos como o Brocas deu, que na minha humilde opinião também está de parabéns com estes dois comentários.

Anónimo disse...

pois, pois, faz a merda e depois os outros que tapem

nunocavaco disse...

Roseiral convicto agradecia que tentasse utilizar outros termos no ataque à minha pessoa, utilize sinónimos como trampa, cócó, fezes, bem tem muito por onde escolher, mas não a palavra que usou porque assim a conversa cheira mal.

Os melhores cumprimentos e não se esqueça de regar a rosa porque em tempos de abril ela pode murchar.

Um abraço

Carlos (Brocas) disse...

Caro Nuno, se discordassemos em tudo era pior do que discordar só nalguma coisa. Pena que, a participação (comentaristica) neste tipo de dialogo seja tão pequena.