As minhas primeiras memórias da Festa do Avante! ficaram retidas na mole humana que se juntou na FIL em 76. Tinha eu então 4 anos e percorri aquele espaço sentado nos ombros do meu pai.
Dos 2 anos passados no Jamor guardo a primeira vez que acampei na Festa e o calor sufocante. Para lá da memória fica o Chico Buarque que me habituei a ouvir nos LP’s que existiam lá em casa, e que hoje é um dos meus favoritos.
É já na Ajuda que mais pormenores guardo, não só pelos 7 anos em que a Festa por lá se aguentou, mas também porque a idade de então assim já o permite. De todos os locais que a festa percorreu este é, na minha opinião, o mais belo, e em parte devido àquele anfiteatro natural em que o Palco 25 de Abril estava implantado. Foi aí que vivi alguns concertos que me marcaram e que foram formando o meu gosto musical. A título de exemplo, lembro-me de ter assistido uma noite ao meu primeiro concerto dos Trovante. No dia seguinte comprei o LP do “84”, logo ali na Feira do Livro de do Disco, que durante anos tocou num gira-discos portátil que por esses dias trocou a sala de casa pelo meu quarto. Ainda hoje sei as letras de cor e muitas das suas canções acompanham-me diariamente no leitor de mp3 que comigo atravessa o Tejo. Mas da Ajuda ficam também as memórias das primeiras vezes em que também dei o meu contributo para a implantação da Festa, ajudando nas pinturas dos pavilhões, ou da primeira vez que lá acampei sozinho, ou ainda alguns episódios curiosos, como os momentos agradáveis que passei a deslizar encosta abaixo juntamente com a outra criançada que, como eu, aproveitavam a lama deixada pelas chuvadas. A Cidade Internacional estava então no seu auge por lá passava sempre algum tempo, quer seja a petiscar qualquer coisa, ou a procurar mais alguns selos para a colecção que então juntava, ou apenas à procura do contacto de gentes de outras paragens.
Da permanência da festa em Loures, a pior de todas as localizações da festa, ficou-me um dos melhores concertos a que já assisti. Os Xutos & Pontapés numa noite memorável! Nesta altura montava a tenda à 5ª feira, dava uma ajuda na montagem da Festa e voltava a casa apenas na 2ª, já com saudades.
Com a compra da Quinta da Atalaia através de uma campanha de fundos que rapidamente reuniu 150 mil contos, ficou mais uma vez demonstrado todo o carinho que os militantes comunistas nutrem pela Festa do Avante! O novo espaço, agora definitivo permitiu a instalação de uma estrutura fixa, poupando trabalho a todos os muitos que anualmente se ocupam a erguer a Festa.
Foi nos seus palcos que conheci a musica dos Cool HipNoise, Primitive Reason, Clã, Tina & The Top Ten, Repórter Estrábico, Pop Dell’Arte ou dos Telectu, e vi concertos do Jorge Palma, Sétima Legião, Madredeus, Da Weasel, Rádio Macau, Sérgio Godinho, Belle Chase Hotel, Blasted Mechanism, Gaiteiro de Lisboa, Maria João & Mário Laginha, ou da Orquestra Metropolitana de Lisboa, entre muitos outros, alguns dos quais nos pequenos palcos que se encontram pelo recinto. A Bienal de artes plásticas é também um espaço que procuro não perder, assim com as exposições especiais como aquela em que apreciei o trabalho de Oscar Niemeyer. Estou em falha com o Avanteatro, raramente por lá passei. Com os anos fomos criando alguns pontos favoritos, os quais vamos percorrendo num desfile que talvez já tenha algo de ritual. Ao sábado procuramos almoçar o Arroz de Cabidela no Porto, procuramos a Poncha da Madeira e seguimos para a Feira do Livro. Na sexta-feira à noite noite, e antes dos concertos, a passagem pelo Moscatel de Palmela é obrigatória. Com os anos, e o emprego depois da faculdade, fomos deixando de lá acampar, mas passados uns anos de interregno, nesta edição volto a dar umas horas de trabalho à Festa e ao Partido.
No ano passado tive o prazer de poder acompanhar fotografando todo o trabalho de implantação da Festa do Avante, desde o primeiro dia, 1 de Junho, até ao último, 2 de Setembro. Eu, e os outros com quem levei avante esta tarefa, pudemos assistir à dedicação de quem ano após ano ali permanece as durante as suas férias, ou quem lá aparece todos os fins de semana durante os meses de calor tórrido. Tudo em nome do “Colectivo” que alguns não querem perceber que se constrói de individualidades.
Amanhã lá estarei novamente e, pela primeira vez, com o meu filho.
6 comentários:
Nesse sentido, todas as festividades populares e/ou religiosas - incluindo o Carnaval de Alhos Vedros tão criticado por ser palco de vaidades - são manifestações de "Colectivos".
Fátima a 13 de Maio, por exemplo, é uma imensa demonstração de um "Colectivo".
Eu tb vou!
aqui não se pretende enganar ninguém.
é claro que a igreja é um "colectivo", e não acredito que em Alhos Vedros seja só uma pessoa a fazer os trajes e a desfilar
Que bonito...mais uma geração!
Atenção que o MP3 que usa pode ser um perigoso objecto capitalista.
Não, desde que saque músicas de borla, está a minar o capitalismo e a contribuir para a sua queda.
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