2007-03-21

Carta ao Presidente Lula

Paris, 18 de Março de 2007
Senhor Presidente:

Como amigos da esquerda popular brasileira e latino-americana, somos constrangidos a vos exprimir nossa dolorosa incompreensão quanto à maneira como as autoridades e a polícia brasileira acabam de colaborar com a polícia francesa do fascizante Sarkozy e com a polícia italiana de Prodi, para prender, tendo em vista a extradição, o escritor ítalo-francês Cesare Battisti. Vós não podeis ignorar que este escritor, que nunca fez mistério do seu militantismo de extrema esquerda nos anos 70, foi condenado na Itália por uma justiça parcial com base numa declaração suspeita de um "arrependido" que sem provas acusou-o de assassínio, coisa que ninguém nunca provou e que Battisti sempre negou. Com outros militantes italianos de extrema esquerda, Battisti refugiou-se em França nos anos 70/80, e François Mitterrand aceitou então recebe-lo oficialmente em França para ajudar a vizinha Itália a por fim às sequelas dos "anos de chumbo" (estes foram desencadeados menos pela loucura de alguns pseudo-comunistas que ignoraram os ensinamentos de Lenine sobre a luta de massa, mas sobretudo pela NATO, pela CIA e pela extrema direita italiana, instigadores da "estratégia da tensão" que visava impedir o PC Italiano de conquistar democraticamente o poder. Jamais os terroristas de direita, autores dos atentados de massa de Bolonha, foram punidos pela "justiça" italiana!). Tão pouco podeis ignorar, Senhor Presidente, que praticamente toda a esquerda francesa opôs-se à extradição de Battisti, uma extradição que significa da parte de Sarkozy renegar a palavra de Mitterrand, ou seja, da França. Ignorais que o fascizante governo italiano de S. Berlusconi, de Gianfranco Fini (presidente do partido "pós-fascista" italiano e instigador de violências policiais assassinas contra os manifestantes alter-mundialistas de Génova) e Umberto Bossi, o presidente racista da Liga Lombarda, relançaram a caça aos expatriados italianos de extrema esquerda por motivos de política interna e na perspectiva de criminalizar o conjunto dos partidos comunistas europeus, assimilando-os a organizações criminosas ou terroristas? O número 2 do partido pós-fascista de Fini, Aliança nacional, acaba aliás de reclamar "a interdição de todos os PC na Europa"! Esta resistente "anti-terrorista" chama-se… Alessandra Mussolini. E é este Fini que acaba de prefaciar a tradução italiana do último livro de Sarkozy, Témoignage ! Senhor Presidente, vós que fostes reprimido pela direita enquanto sindicalista, ajudaríeis por desconhecimento a ultra-direita europeia a federar-se mundializando a repressão? Talvez ignoreis também que o sr. Nicolas Sarkozy, o actual todo poderoso ministro do Interior francês, que vos pediu para seguir Battisti, é o líder francês da direita mais fascizante e a mais ultra que o nosso país sofreu desde 1940. Este personagem impulsiona em França uma política ultra-repressiva e ultra-patronal, encarniça-se contra os movimento operário, os jovens e os trabalhadores imigrados, sonha abertamente em europeizar e mundializar a caça às feiticeiras contra a esquerda e os comunistas. E tudo isto em uníssono com a União Europeia, que encoraja actualmente uma campanha macartista à escala continental (os partidos comunistas são reprimidos ou proibidos num número crescente de países europeus). Será admissível que o líder histórica do Partido dos trabalhadores brasileiros se preste, sem dúvida por desconhecimento, a esta mundialização da caça aos "vermelhos" encorajada pelos neoconservadores norte-americanos? Mas podeis ignorar que a França está em campanha eleitoral e que a prisão de Battisti é antes de tudo um golpe mediático-eleitoral cujo fim é promover o CANDIDATO Sarkozy, este personagem perigoso para a França, a democracia e a paz? Sarkozy prevalecer-se-á desta prisão para por em destaque suas "boas relações" com a "esquerda" internacional, no caso convosco mesmo… para melhor atacar a esquerda francesa e europeia! Na realidade, neste assunto, Sarkozy cinicamente instrumentalizou o Brasil para a sua campanha: ele vai poder abandonar (por estes dias) o Ministério da Polícia com um golpe de efeito! As relações franco-brasileiras merecem certamente algo melhor do que esta operação que empana a imagem de "Lula" junto aos progressistas e aos trabalhadores franceses e italianos. O Brasil novo que vós desejais tem tudo a perder ao ajudar a reacção francesa, europeia e norte-americana (Sarkozy é um incondicional de Bush) a reforçar-se à escala planetária, para acabar por fim com TODA a esquerda mundial e europeia — inclusive, cedo ou tarde, com a esquerda que se reclama reformista. Eis porque nós vos pedimos para não extraditar Cesare Battisti e para pô-lo em liberdade sob a protecção da justiça brasileira até que ele possa retornar livremente à França, onde estava a ponto de adquirir a nacionalidade, quando o nosso país, em plena deriva reaccionária tal como toda a União Europeia, reencontrar os valores de progresso que fizeram seu renome passado. Pois, como disse o nosso filósofo francês Augusto Comte e como o proclama a divisa do Brasil, a "ordem" sem o progresso não serve senão a tirania. Com as nossas respeitosas saudações internacionalistas, anti-facistas e anti-imperialistas.

Pelo Pôle de Renaissance Communiste en France : Georges Hage, deputado comunista do Norte, decano da Assembleia Nacional francêsa
Jean-Pierre Hemmen e Léon Landini, presidentes nacionais
Georges Gastaud, secretário nacional
Daniel Antonini, secretário internacional
Alexis Lacroix, secretário da Jeunesse pour la Renaissance Communiste en France

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