Como nasceu o Partido Comunista Português
Terminada a primeira guerra mundial (1914-1918), Portugal mergulhou
numa grave crise económica, com uma vertiginosa subida dos preços e do
desemprego.
O ano de 1919 ficou assinalado pela maior vaga de lutas
reivindicativas dos trabalhadores, face ao agravamento das condições de
vida.
Apoiado na força das suas organizações sindicais, o
proletariado português respondeu ao aumento da exploração,
desencadeando um amplo movimento grevista, para conter a ofensiva do
capital.
Com o apoio da União Operária, cresceram as movimentações
reivindicativas e, no fogo dessas lutas, a classe operária conquistou,
finalmente, a histórica vitória da jornada de 8 horas de trabalho.
Em Setembro de 1919, as organizações sindicais deram um novo
passo para o reforço da sua unidade de acção, criando a CGT -
Confederação Geral do Trabalho, que rapidamente reuniria 100 000
membros.
Mas, sem um programa político, a classe operária não
conseguiria definir uma política de alianças coerente, e encontrava-se
isolada nas suas batalhas contra o patronato.
Entretanto, na linha da repercussão internacional da Revolução
Russa de 1917, desenvolvera-se em Portugal, um entusiástico movimento
de solidariedade e apoio à causa bolchevique.
Haviam-se formado círculos diversos, para popularizar a
experiência do proletariado russo, em 1919, fundou-se a Federação
Maximalista Portuguesa que passou a editar o semanário Bandeira
Vermelha.
A partir de Novembro de 1920, realizaram-se várias reuniões nas
sedes de alguns sindicatos, com o intuito de se construir uma vanguarda
revolucionária da classe operária portuguesa. No mês seguinte,
reuniu-se uma Comissão Organizadora dos trabalhos para a criação do
Partido Comunista Português, que iniciou, em Janeiro de 1921, a
elaboração das bases orgânicas da nova formação política.
De modo diverso ao que ocorrera na generalidade dos países
europeus, o Partido Comunista Português não se formou a partir de uma
cisão no Partido Socialista, mas ergueu-se, essencialmente, com
militantes saídos das fileiras do sindicalismo revolucionário e do
anarco-sindicalismo, que representavam o que havia de mais vivo,
combativo e revolucionário no movimento operário português.
É nesta fase embrionária da vida orgânica dos comunistas que
cedo se colocou a necessidade da criação do Orgão do Partido Comunista
Português. E, volvidos sete meses sobre a fundação, foi dado à estampa
“O Comunista”, em 16 de Outubro de 1921, ao qual sucederia, o «Avante!»
em Fevereiro de 1931.
Instalada a sua primeira sede na Rua Arco do Marquês do
Alegrete nº 3 - 2º Dto, em Lisboa, o PCP abriu, ainda em 1921, os
Centros Comunistas do Porto, Évora e Beja.
A fundação do Partido Comunista Português não foi um acaso nem
fruto de uma decisão arbitrária. Foi a expressão de uma necessidade
histórica da sociedade portuguesa e resultado da evolução do movimento
operário português.
A FUNDAÇÃO DO PCP
A 6 de Março de 1921, na sede da Associação dos Empregados
de Escritório, em Lisboa, realiza-se a Assembleia que elege a direcção
do PCP. Estava fundado o Partido Comunista Português. Nele confluem décadas
de sofrimento e luta da classe operária portuguesa, as lições
das grandes vitórias da classe operária internacional, os ensinamentos
de Marx, Engels e Lénine. Com a fundação do PCP a classe
operária portuguesa encontra a sua firme e segura vanguarda.
Logo após a sua constituição, a «Junta Nacional»
do PCP (designação então dada ao seu organismo dirigente)
realiza uma série de reuniões.
O Partido estabelece a sua sede na Rua do Arco Marquês do Alegrete,
n.° 3, 2.° Dt.°. E aberta uma inscrição para o recrutamento
de novos membros, atingindo-se em breve o milhar de filiados. Num Manifesto
em que faz a sua apresentação pública, o Partido Comunista
Português publica os 21 pontos da Internacional Comunista, que constituem
a sua base política, afirmando assim também a sua adesão
ao Movimento Comunista Internacional. Pouco depois forma-se também a
Juventude Comunista.
Em fins de 1921, numa reunião conjunta do Partido e da Juventude, assenta-se
no início da edição dos primeiros órgãos
comunistas em Portugal. Ainda em 1921, inicia-se a publicação
de O Comunista, órgão do Partido, e de O Jovem Comunista, órgão
da Juventude.
Uma das mais importantes frentes de acção dos comunistas neste
período é a sua luta dentro das organizações sindicais
para dar umajusta orientação à luta dos trabalhadores epara
a adesão do movimento sindical português à Internacional
Sindical Vermelha.
A questão da filiação na ISV é discutida no Congresso
Nacional Operário, em Setembro de 1922, na Covilhã. As propostas
dos partidários da ISV são derrotadas, mas, apesar disso, as suas
posições no movimento sindical continuam a ser muito fortes. Sob
a condução dos comunistas, organizam-se Núcleos Sindicalistas
revolucionários, que obtêm a adesão de muitos sindicatos.
Com a criação e acção do PCP acelera-se a necessária
clarificação das tendências do movimento operário.
Ê dado um importante impulso à consciencialização
e desenvolvimento político das massas trabalhadoras. Mas as dificuldades
desta luta são grandes. O nível de preparação política,
teórica e prática dos militantes é ainda baixo. Falta ainda
ao Partido uma formação marxista-leninista e uma direcção
de militantes politicamente experientes.
Extraído do livro "60 anos de luta"
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