2007-03-15

A minha relação com a escrita do António Lobo Antunes é estranhamente parecida à que mantive, durante muito tempo, com a do Saramago: não conseguia passar da décima página. Mas enquanto no segundo caso este bloqueio foi ultrapassado com Levantado do Chão, a que se seguiram o Evangelho Segundo Jesus Cristo, o Memorial do Convento (e por aí fora), no caso do agora agraciado com o Prémio Pessoa, apenas tenho lido avidamente as suas crónicas na Visão. Durante meses (talvez anos) era sempre esta a primeira página que procurava, ritual apenas alterado com o aparecimento do Ricardo Araújo Pereira nas páginas da mesma publicação, que conseguiram, aí sim, revolucionar o meu modo de leitura da revista: agora leio-a de trás para a frente, acabando invariavelmente no Lobo Antunes.

Voltando ao “bloqueio” de leitura, confesso que tentei pelo menos 4 vezes o mesmo livro, e é certamente aí que reside o meu erro, mas no Conhecimento do Inferno agradou-me sempre aquela subversão da realidade (que mais tarde soube relacionar-se com os anos que o autor passou como médico no Hospital Miguel Bombarda), e que algumas (poucas) páginas depois se torna maçadoramente desesperante, empurrando-me para a desistência. A coisa chega a raiar o ridículo, porque até tenho outras opções e sempre voltei ao mesmo inferno, um erro que desta vez não cometerei. Para o autor, o prestígio e o prémio pecuniário serão sem dúvida importantes, mas para mim este Prémio Pessoa servir-me-á de alento para mais uma tentativa, assim que terminar o 1º volume do excelente “The Photobook: A History” de Martin Parr e Gerry Badger.

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